domingo, 8 de março de 2009

Destino de Viagem - Colônia del Sacramento

Do topo do farol da cidade de Colônia del Sacramento, Uruguai, se observa o Rio da Prata.

Onde: Colônia del Sacramento, no Uruguai, a pequena cidade é a mais antiga do Uruguai e é reconhecida pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade. Da para chegar nela pelo navio da BuqueBus, que sai do Puerto Madero em Buenos Aires.

Como funciona: A cidade respira história já que foi fundada pelos portugueses logo após a descoberta do Brasil. Ela foi disputada durante anos pelas coroas da Espanha e de Portugal (mistura arquitetônica de ambos lugares). É fácil achar lugares para se hospedar no próprio centro histórico, por ali há diversos restaurantes e deles da para observar o Rio da Prata, onde há o porto e barcos à vela.

É especial...: Você pode alugar um carrinho de golfe ou um quadriciclo para passear pelas ruazinhas antigas (só não se esqueça da carta de motorista como eu!), mas com esse inconveniente acabei alugando uma bicicleta mesmo. Pedalando você vai bem mais rápido que os carros de golfe (o valor do aluguel pode ser feito em dólar mesmo).

Passeios: Subir no farolito da cidade (o farol vermelho e branco se destaca pelas casinhas da região), sentar em alguns dos restaurantes que da para o rio (seja de dia ou à noite). Um que recomendo é o Vicio, com massas maravilhosas. Não deixar de andar pela rua dos Suspiros e tirar fotos no antigo Portão de Armas. As lojas da cidade são parada obrigatória. Pedalar até a playa de ferrando, a praia de água doce é linda e limpa para dar um mergulho. No caminho para a praia há cavalos, muitas árvores e cheiro de lenha.

Dica: Se hospedar no Hotel & Spa Esperanza, que também é tombado pelo Patrimônio Histórico. O hotel tem piscina, massagens, sauna e jacuzzi. Sem falar que fica ao lado de um ótimo restaurante. Não deixar de ir em um dos vários bares da cidade, sentar nas mesinhas da rua e beber uma cerveza Patricia. Um fim de semana é o suficiente para aproveitar o lugar, então para quem quer continuar a viagem da para fechar pacotes, com a própria BuqueBus, para Montevidéu ou Punta del Leste.

Chorar: Sem lágrimas. Porque até com chuva da pra aproveitar a cidade, é só ficar sentada nos restaurantes e bares que são ótimos.

Conglomerate

Janeiro/2009

Bolívia

A Chola caminha pelas ruas de Santa Cruz de La Sierra.



Na vida de Agripino: memórias de uma canção

“Não tem mais ninguém que faz aquilo que eu faço”. Disse-nos um senhor com os pés quase descalços. Usa uma sandália desgastada e em tiras de couro, sendo algumas arrebentadas.

Era mais um dia de calor abrasador, estamos sentados embaixo da sombra feita pela única árvore e Seu Agripino nos faz mergulhar em suas histórias e músicas. Ele tem 89 anos; quando criança aprende a tocar e a fazer a viola-de-cocho pantaneiro. Instrumento regional do Mato Grosso do Sul. Interrompendo-nos, para completar a cena, traz a viola.

O seu pai rouba a sua mãe para se casarem. Fugiram para Poconé, próxima a Cuiabá, onde nasceu Agripino Soares de Magalhães; no entanto ele é registrado pelos seus pais em Várzea Grande. Lá aprende a tocar e a fazer a viola. Aos 13 anos ele foge de casa e vai morar em Corumbá. “Morava no sítio em Paiangé, pertinho da cidade, eram quatro léguas daqui. Lá eu não aprendi a ler e escrever, eu aprendi a trabalhar; cortar com machado, cuidar de lavoura e plantação. Eram os serviços que tinham”.

É ele quem traz de Cuiabá os dois estilos de dança que saem da viola-de-cocho: o “cururu” e o “siriri”. Ele é o “cururueiro” mais famoso do país. Nem mesmo seus 10 filhos, oito meninos e duas meninas, aprenderam a tocar ou a fabricar o instrumento. “O mais velho tem 68 anos e o mais novo 43 anos”. Todos nasceram de Dona Maria Madalena de Magalhães, com quem é casado há mais de 60 anos.

O nome “cururu” se dá à técnica da escavação de caixas de ressonância da viola. Orgulhoso, ele lembra as viagens de ônibus que fez e ainda faz com sua banda os “Cantadores de Cururu”. Aliás, há mais três integrantes na banda, eles já se apresentaram em São Paulo e em outros estados.

A idade dele não é um estorvo para que prossiga com o canto e o dedilhar dos dedos nas cordas da viola. No dia anterior havia se apresentado e com dificuldade lembrou em qual festa havia tocado. “Dia de São Gonçalo, 10 de janeiro.”

As festas folclóricas que ocorrem durante o ano contam com o som estridente da viola. Uma delas é a religiosa e profana festa junina, onde ocorre o tradicional banho de São João. Aqui sete imagens de santos são carregadas pelos corumbaenses rio abaixo. Quando elas se encontram, são feitas reverências. Em seguida são molhadas relembrando o batismo de Jesus Cristo. Vale ressaltar que esse costume de banhar o santo ocorre nas casas das famílias e é passado de geração para geração.

O desafinado das cordas vai acompanhando suas frases, que nos revela: “A viola de cocho é criada assim: mandam o rapaz cortar um pau para fazer cocho para colocar comida para as vacas dele. Mas ele corta muito comprido, sobra um pedaço e com aquele pedaço ele faz uma viola. As primeiras são furadas, agora não é mais. Agora ela é oca, leve”. Desse modo podemos fazer a associação de onde surge o nome do instrumento; o Cocho é o recipiente que deposita o alimento do gado.

“A viola aqui é feita de uma madeira de Cuiabá, chama-se Timbaúba. E as cordas eram feitas de tripa de macaco. Mas esse costume foi extinto. Há excesso de violeiro e cento e poucos caçadores de cururu que matam macacos e acabam com eles. Então o governo resolve proibir, isso já faz 30 anos. E daí passaram a fazer cordas de nylon. Essa é de nylon”.

Nas paredes de sua casa fotografias antigas com D. Maria e algumas matérias que saem sobre Seu Agripino em jornais e revistas, uma delas emoldurada nos chama a atenção. Era uma matéria de 2006 do jornal “Folha de S. Paulo”, com o título; “Viola-de-cocho fabricada seguindo superstições dá o tom da música regional”. As lembranças dele revelam-se através dos olhos azuis, que poderia ser de uma doença da velhice ou uma miscigenação de europeus, e em contraste com a pele negra os olhos brilhavam mais. Nos dedos há dois anéis grandes, como de um fazendeiro. Um é prateado; o outro, dourado, ambos com pedras vermelhas.

O som que vem da viola é acompanhado do ganzá, o tamborim e o mocho. Seu Agripino nos leva o ganzá feito de dois materiais; um pedaço é um osso; o outro, um bambu. O som surge do raspar entre as duas peças. E a viola tem uma única saída de som, a sonorização dela é uma batida oca. Pede para colocar o ganzá no ombro e tocar com ele, enquanto canta uma das músicas. Por causa desse som estridente, pudemos tirar uma letra mais ou menos assim:
“Moça morena, cor de canela. Moça morena , cor de canela. Entra na cozinha que eu te espero na janela. (3x)Moça morena, cor de canela”.(2x)

Esse é o ‘siriri’, é mais agitadinho, comenta. E canta o “cururu”:

“Meus senhores dão licença ali, seu Taquera me dá. Um dia eu tô imaginando eu tô querendo mudar de terra, mas depois eu penso bem na minha ingratidão.Abandonar a minha terra, onde eu nasci e me criei.Fui para a fazenda pra viver?!

Os senhores me dão licença.E lição ´pra mim´ brincar, Um dia eu tô imaginando eu tô querendo mudar de terra. Mas depois eu penso bem, na minha ingratidão. Abandonar a minha terra, onde eu nasci e me criei”.

As letras são melancólicas e representam o cotidiano do homem do campo. Quando improvisadas, são mostras da história cantada da região e dos melhores “cururueiros”.

Na dança do “cururu” apenas os cavaleiros dançam e no “siriri” eles têm nas mãos uma dama. As batidas de palmas e pés funcionam como cortejo da música. As mulheres e homens devem usar o figurino apropriado para a dança. “As mulheres, um vestido com a saia longa e um casaco de manga ¾. Os homens uma camisa branca com manga comprida, a calça preta com uma faixa na cintura e o chapéu panamá. Eu tenho a roupa aqui em casa”.

Para acharmos a casa de Seu Agripino, seguimos as coordenadas: casa de número 90 na Rua Beira Rio. Em frente à simples casa há uma creche municipal fundada por ele, onde há aulas para crianças carentes. Ele também foi o presidente do bairro durante seis anos.

No moinho do vento, espaço de arte e museu localizado no porto, ele dá aula de dança para as moças e rapazes. Seu salário no moinho é mensal e outra fonte de renda dele são as violas que constrói artesanalmente, o preço do instrumento varia de 220 a 240 reais. Demora uma semana para fabricar cada viola. “Tem gente que não quer tocar, tem vergonha. Aqui é a cidade do fim do mundo, mas é uma cidade ótima para se viver, hoje já ‘tá’ cheio de gente. Quando eu cheguei aqui no bairro só tinha eu como morador.”

*By Clarissa Ludwig, do livro "Nos Trilhos da Fronteira".

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Eu lhe falei de um lugar onde nos sentiriamos no deserto
Sua gratidão me conforta
Partiremos em silêncio

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Dorothy's new way of life...


Os sapatos eram vermelhos, as unhas roídas e pintadas de rosa, brilhante e longo o cabelo ondulado balançava ao andar pelas ruas esburadas e sujas. O salto se gastava em cada tropeço, sapatinho vermelho escurecia no passo-a-passo.

Olhava para o céu todas as noites, buscava por estrelas e planetas. As três marias recebiam a sua atenção.

Coberta quente e na cor branca, banheiro límpido e branco. Escovava os dentes cinco vezes ao dia. Almoçava peixe e jantava sopa. Tomava leite porque não gostava de café, mas também não gostava de leite. Trocou por iogurte nas últimas semanas.

Passando pela vitrine de uma simples rua observou belos sapatos verdes, com eles começou a pintar as unhas de roxo. Elas cresceram. Acendia um cigarro por cada tropeço na rua. Fumava muito. O sapatinho verde se gastava.

O telefone tocou e imediatamente largou o livro que lia, desbruçou sobre a coberta e segurando o celular ouvia os toques do telefone. Esperava a ligação se perder.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Transforma

erro no ato.
incerteza na palavra.
sendo dessa espécie eu afundo,
ganso quando nado,

ataco quando leoa
e pato quando pago